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17 de março de 2011

Oberkampf

Nossos pais morreram
no mesmo acidente estúpido:
vimos o sangue,
vimos os corpos.
E você me fez prometer
que jamais
te deixaria

Morávamos
no mesmo
prédio,
no mesmo
andar.
Sua porta era colada
à minha porta e
entrar no seu quarto
e no meu quarto
era igual
mas ao contrário.

O metrô passava a cada
três ou quatro
minutos
a estação era a cozinha
da sua casa,
parecia Oberkampf
mas com menos
azulejos amarelos.

Sua voz ainda era
uma força da natureza
que me alcançava
na sinestesia
dos sonhos.

E dos sonhos
acordei
e nunca mais
escrevi sobre cadernos
folhas
em branco
desertos
palavras escondidas
atrás de
palavras escondidas

Então as coisas passaram
a ser como antes eram:
as coisas
e só as coisas:

pouco importa a ênfase
pouco importa a verdade

o que importa é a vida
(e a vida
não cabe).

4 comentários:

Larissa Andrioli disse...

Quando leio "as coisas / e só as coisas: // pouco importa a ênfase" Drummond GRITA na minha cabeça. E minha vontade é gritar que a vida não cabe. Nunca.

Falar que um poema seu é foda é um puta pleonasmo. :)

Anelise Freitas disse...

Esse poema me tira do sério, Laura. Sua LYNDA!

Pamella Oliveira disse...

Quer ler esse poema até fazer caber. Que lindo, meu deus!

Laura Assis disse...

brigada, gente \o/